O Exercício Físico e o Cérebro
POR BRUNO SILVA
O Exercício Físico (EF) é uma subcategoria da atividade física caraterizada por ser uma atividade planeada, estruturada e repetida. Tem como objetivo intermédio e final, o de manter/desenvolver um ou mais componentes do estado de fitness. Nos dias de hoje o EF tem o potencial de ser utilizado como uma ferramenta “gold-standard” no que toca ao controlo da suscetibilidade de doenças ou disfunções neurológicas e metabólicas, com capacidade hereditária.
Segundo a mais recente evidência, o EF afeta positivamente a plasticidade cerebral, assumindo um papel preponderante na modulação do cérebro moderno através de milhares de anos de evolução, beneficiando funcionalmente o ser humano no seu domínio biológico (função cognitiva) e psicológico (o bem-estar físico e mental). Neste sentido é importante compreender que o aspeto biológico cerebral mais importante é a neuroplasticidade, que lhe permite modificar-se através das experiências vividas. O EF é visto como um promotor do ambiente perfeito para se dar este tipo de alterações. Os processos neurobiológicos associados à neuroplasticidade são a proliferação de células neurais, apoptose (morte celular programada), plasticidade sináptica e a consolidação de memória. O EF tem a capacidade de influenciar o estado emotivo, através do sistema límbico (responsável pelas emoções e comportamentos sociais) influenciando por via de circuitos neurais específicos as áreas pré-frontais (função cognitiva e memória de trabalho).
Em Humanos, os indicadores de mudanças estruturais do cérebro, representados através do aumento do volume cerebral, incrementam a eficácia neural permitindo a redução dos danos causados nas regiões de massa cinzenta com o avançar da idade ou por desuso das áreas responsáveis por essas competências. A razão para este tipo de desenvolvimento pode estar na consequência de um aumento da oxigenação e aporte de nutrientes ao cérebro, através do aumento do fluxo sanguíneo cerebral, assim como a produção de genes (como BDNF e IFG-1) que regulam positivamente a consolidação da memória, ao mesmo tempo que desregulam genes que representam respostas repressoras a esses eventos.
Existe evidência científica da relação entre o EF e a concretização académica, quando comparados indivíduos ativos e sedentários. Crianças que pratiquem atividade física intensa têm maior probabilidade de verem potenciadas a sua performance verbal, percetual e aritmética.
Para além da memória de trabalho/racional, também a memória a longo prazo é potenciada, promovendo a habilidade de “gravar” eventos de aprendizagem difícil. Estudos apontam que com apenas 2 semanas de exposição, é possível observar incrementos na atividade neural de base em regiões como o hipocampo, a amígdala e o córtex, principais áreas relacionadas com a memória de longo prazo.
Os efeitos benéficos do exercício no cérebro podem durar um tempo bastante considerável, criando uma memória genética, com base consolidada em idades mais jovens, que permite preparar as idades mais avançadas, tendo ainda a possibilidade de ser perpetuado para as gerações futuras. Este facto vai de encontro aos estudos realizados em atletas Masters com média de idades de 74 anos, nos quais foram achados marcadores elevados de oxigenação cerebral em repouso, que evidenciam o papel preponderante do EF no atraso das comorbilidades cognitivas em idades mais avançadas, como por exemplo a demência.
Assim, o EF vem demonstrar-se como uma potente ferramenta no que toca à reprogramação de genes responsáveis pela estrutura e função cerebral, destacando-se positivamente na manutenção da saúde mental e cognitiva.
Não se esqueça: neste tempo de quarentena, o exercício físico poderá ser uma boa ferramenta para potenciar a nossa leitura, estudo, teletrabalho ou qualquer outra atividade cognitiva que escolhamos! E com isso, estamos também a promover saúde. Por isso, toca a mexer!
Bibliografia
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Autor:
BRUNO SILVA
- Fisioterapeuta ROPE (Grupo Saúde Nuno Mendes);
- Licenciado em Fisioterapia pela Escola Superior de Tecnologias de Saúde do Porto (atual Escola Superior de Saúde do Porto);
- Pós-graduação em Fisioterapia Neuro-Musculo-Esquelética pelo Instituto Jean Piage;
- Certificações: Kinetic Control – The Movement Solution; Mentorship Athletic Lab – Performance Coach pela Elite Traininig Brasil; Mapping Training System pela Neuromecanica Lab.