A ADAPTAÇÃO AO MEIO AQUÁTICO NO ENSINO DA NATAÇÃO
POR HENRIQUE NEIVA, RICARDO FERRAZ E DANIEL MARINHO
As atividades aquáticas são parte integrante dos programas de exercício físico. Em particular, a literatura tem apontado a faixa etária dos três aos doze anos de idade como a de maior importância no alcançar de objetivos como:
- Adaptação a um meio distinto e portanto inabitual, como a água;
- Promoção da saúde das crianças, independentemente das suas limitações, tirando partido das vantagens biomecânicas que o meio apresenta;
- Contribuição para o desenvolvimento psicomotor, social e cognitivo;
- Aumento da segurança individual e coletiva, devido à diminuição consequente do risco de afogamento.
Atividades comuns como o andar, correr ou saltar, são práticas habituais da criança desde tenra idade, concretizadas num meio onde consegue movimentar-se sem grandes forças de arrasto e onde a respiração se pode caracterizar como um movimento autónomo, voluntário e de certa forma automatizado. Pelo contrário, as atividades aquáticas são concretizadas num meio, o aquático, que requer um processo particular e progressivo de adaptação. Com efeito, a eficácia do comportamento humano no meio aquático é justificadamente diferente daquele que se observa em meio terrestre, particularmente no que diz respeito à posição corporal, ato respiratório e mecanismos de propulsão. No meio aquático, por exemplo, pode constatar-se que a inspiração é realizada pela boca, de forma ritmada e rápida. Por outro lado, a propulsão é executada tendencialmente em posição horizontal e as forças de arrasto exercidas sobre o corpo condicionam o equilíbrio.
Dada a sua relevância, qualquer programa de adaptação ao meio aquático deverá servir todas as faixas etárias, ser independente do nível do praticante e da atividade aquática a ser praticada. Pretende-se, por isso, que seja de uma implementação transversal. Considerando as faixas etárias de base e antes de qualquer decisão de caráter educativo ou competitivo, a criança/jovem deve estar apto a responder, do ponto de vista motor, ao meio aquático. Por outro lado, se no passado recente se justificava a prática das atividades aquáticas com crianças e jovens com objetivos centrados essencialmente na segurança e sobrevivência, atualmente a abrangência é muito maior com relevo na componente educativa.
É neste contexto educativo, com ênfase no desenvolvimento gradual e harmonioso da criança, que qualquer programa de adaptação ao meio aquático deve prever atividades para exercitação e desenvolvimento de habilidades designadas de motricidade grossa (i.e., equilíbrio, respiração e propulsão), e habilidades de motricidade fina (i.e. as manipulações), seguindo o modelo de três etapas preconizado pela Federação Portuguesa de Natação. Neste modelo, a primeira etapa (“promover a familiarização do aluno com o meio aquático”) corresponde à familiarização com o meio aquático visando a aquisição do primeiro objetivo da adaptação ao meio aquático. Com a concretização da segunda etapa (“promover a criação de autonomia no meio aquático”), procura-se a aquisição de habilidades motoras aquáticas básicas mais relevantes para a criação de autonomia no meio. A terceira etapa (“criar as bases para posteriormente aprender habilidades motoras aquáticas específicas”) trata da transição entre a adaptação ao meio aquático e as etapas seguintes relacionadas com a aprendizagem de habilidades motoras aquáticas específicas. Para o cumprimento destes objetivos propõe-se a utilização de um conjunto de jogos aquáticos ou tarefas recreativas. Cada uma das tarefas deve possuir um objetivo claramente identificado, evitando-se a prática recreativa sem propósito de ensino. Recomenda-se igualmente a atribuição de um nome para o jogo para que o processo aquisitivo e de compreensão decorra em condições mais facilitadoras, reduzindo-se o tempo de instrução e incrementando-se o tempo de prática e o tempo potencial de aprendizagem.
Bibliografia
Barbosa, T.M., Costa, M.J., Marinho, D.A., Queirós, T.M., Costa, A., Cardoso, L., Machado, J., & Silva, A.J. (2015). Manual de referência FPN para o Ensino e Aperfeiçoamento Técnico em Natação. Cruz Quebrada: Federação Portuguesa de Natação.
Autores:
HENRIQUE NEIVA
PROMOFITNESS- Doutorado em Ciências do Desporto tendo como tema de dissertação “Estudo do efeito de diferentes tipos de aquecimento no rendimento específico em Natação Pura Desportiva” – Universidade da Beira Interior
- Licenciado em Desporto e Educação Física pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto com a opção de “Desporto de rendimento – Natação”
- Membro colaborador do “Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano” (CIDESD)
- Colaborador no projecto “Controlo e avaliação do treino em nadadores da selecção nacional de natação”, que se realizou na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
- Professor de Natação para adultos, idosos e crianças no MAPADI – Escola de Natação NAGIM.
- Professor de Natação para crianças, jovens e adultos na empresa Conde Lazer – Desporto e Recreação, Lda
- Treinador de Grau III em natação
DANIEL MARINHO
PROMOFITNESS- Doutorado em Ciências do Desporto na UTAD, na temática da Natação;
- Licenciado em Desporto e Educação Física na FCDEF-UP;
- Docente na Universidade da Beira Interior (UBI, Covilhã);
- Colaborador da Federação Portuguesa de Natação.